- Quê?
- Robert diz isso. Diz isso naquele cenário gótico.
- The blind man kissing my hands, é?
- É, é sim. Naquele cenário, hein, um homem cego beijando suas mãos.
- Fantastic!
- A strange day. Vou pôr pra você ouvir.
Houve uma pausa. A atmosfera sendo empurrada de mim pra ele e dele pra mim. Dez segundos mudos. No fundo apenas a voz de Caetano. Minha pomba, Jr, deixe-o cantar. Deixo-o cantar e o mundo ficará odara. Você vai ver. Enterro minha cabeça no travesseiro. Há uma pequena distância entre o meu colchão e o dele, ambos atirados no chão da sala. Sua expressão é de desapontamento, desapontado como uma criança. Tenho vontade de abraçá-lo. Um abração. Tenho dito um monte de NÃO a ele ultimamente. E isso não pode ser bom.
- C'est trop fort! - Rolo para o outro lado, giro por cima dos livros, me espreguiço. - Você gostaria, Jr, de ter um homem beijando-lhe as mãos num cenário gótico?
Observo minhas pernas iluminadas pela luz do sol que entra pela porta da sala. O esmalte vermelho implora para que eu o remova das unhas. Balanço-as no ar. Imagino os átomos se movendo, dançando entre minhas pernas. Está ficando mesmo, ficando tudo odara. E os átomos estão dançando. Eu não posso vê-los, mas fecho os olhos e imagino-os. Imagino pequenas bolinhas maciças. Gosto da ideia de átomos como bolinhas maciças.
Será que ele gostaria de ter um velho para lhe beijar as mãos também? Mas quem gostaria, Roberta, de ter as mãos beijadas por um velho cego naquele palco horrendo do Pornography? Ninguém. Ninguém. Ninguém. E eu gosto de dizer esse nome porque imagino um lugar vazio. Hawaii, hein?
Pra falar a verdade, eu sempre gostei de contatos afetivos com pessoas estranhas. Geralmente com velhos e crianças. Sorrisos, abraços, beijos nas mãos são capazes de me deixar mole. Lembro-me de uma vez. Lá estava um velho prostrado a minha frente com seu sorriso de poucos dentes e os olhos brilhantes derramados sobre meu rosto. Estava trancada no meu casulo aquele dia e saí apenas para lhe estender minhas mãos pequenas. E ele as beijou, beijou mais de uma vez, beijou-as com paixão. E tudo se desfez numa gracinha. Se eu não deixaria passar nem o velho moribundo? Aquela pessoa já teve as mãos beijadas? Coitado!
- Hein? - insisto.
Vejo-o muito distante de mim com os olhos ocupados num livro. Tem um grafite avermelhado na mão direita. Qu'est-ce que c'est? Qu'est-ce que c'est? Seus olhos no livro. Tiro As meninas de baixo de mim e o repouso no meu ventre. Não, ninguém nunca beijou suas mãos. Abro o livro. Já reparou como Caetano fala inglês bem? Fala inglês muito bem, muito claramente. Mas você já pode mostrar a música. Não queria mostrar a música? Ham? Você já pode, benzinho, colocar Robert Smith para me encher o saco. Vamos. Você não vai colocar? Hein?
- Robert diz isso. Diz isso naquele cenário gótico.
- The blind man kissing my hands, é?
- É, é sim. Naquele cenário, hein, um homem cego beijando suas mãos.
- Fantastic!
- A strange day. Vou pôr pra você ouvir.
Houve uma pausa. A atmosfera sendo empurrada de mim pra ele e dele pra mim. Dez segundos mudos. No fundo apenas a voz de Caetano. Minha pomba, Jr, deixe-o cantar. Deixo-o cantar e o mundo ficará odara. Você vai ver. Enterro minha cabeça no travesseiro. Há uma pequena distância entre o meu colchão e o dele, ambos atirados no chão da sala. Sua expressão é de desapontamento, desapontado como uma criança. Tenho vontade de abraçá-lo. Um abração. Tenho dito um monte de NÃO a ele ultimamente. E isso não pode ser bom.
- C'est trop fort! - Rolo para o outro lado, giro por cima dos livros, me espreguiço. - Você gostaria, Jr, de ter um homem beijando-lhe as mãos num cenário gótico?
Observo minhas pernas iluminadas pela luz do sol que entra pela porta da sala. O esmalte vermelho implora para que eu o remova das unhas. Balanço-as no ar. Imagino os átomos se movendo, dançando entre minhas pernas. Está ficando mesmo, ficando tudo odara. E os átomos estão dançando. Eu não posso vê-los, mas fecho os olhos e imagino-os. Imagino pequenas bolinhas maciças. Gosto da ideia de átomos como bolinhas maciças.
Será que ele gostaria de ter um velho para lhe beijar as mãos também? Mas quem gostaria, Roberta, de ter as mãos beijadas por um velho cego naquele palco horrendo do Pornography? Ninguém. Ninguém. Ninguém. E eu gosto de dizer esse nome porque imagino um lugar vazio. Hawaii, hein?
Pra falar a verdade, eu sempre gostei de contatos afetivos com pessoas estranhas. Geralmente com velhos e crianças. Sorrisos, abraços, beijos nas mãos são capazes de me deixar mole. Lembro-me de uma vez. Lá estava um velho prostrado a minha frente com seu sorriso de poucos dentes e os olhos brilhantes derramados sobre meu rosto. Estava trancada no meu casulo aquele dia e saí apenas para lhe estender minhas mãos pequenas. E ele as beijou, beijou mais de uma vez, beijou-as com paixão. E tudo se desfez numa gracinha. Se eu não deixaria passar nem o velho moribundo? Aquela pessoa já teve as mãos beijadas? Coitado!
- Hein? - insisto.
Vejo-o muito distante de mim com os olhos ocupados num livro. Tem um grafite avermelhado na mão direita. Qu'est-ce que c'est? Qu'est-ce que c'est? Seus olhos no livro. Tiro As meninas de baixo de mim e o repouso no meu ventre. Não, ninguém nunca beijou suas mãos. Abro o livro. Já reparou como Caetano fala inglês bem? Fala inglês muito bem, muito claramente. Mas você já pode mostrar a música. Não queria mostrar a música? Ham? Você já pode, benzinho, colocar Robert Smith para me encher o saco. Vamos. Você não vai colocar? Hein?