Hipergrafia Nostálgica

Em memória do meu nunca-esquecido-cachorro-Mike e das coisas que eu tenho perdido ao longa da vida.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aferindo e ferindo o passado

Acalma, menina
Não há palavra bonita que hoje saia de ti
Nem um sentimento extravagante que seja capaz de te queimar a pele e os olhos
Ah sim, foram os olhos dele!
Brilhavam instantes atrás
E tu os apreciava
Teu desejo era que fossem teu espelho particular
Agora com as mãos dele nas tuas
Com seus lábios pressionados contra os teus
Teus olhos malcriados, por que evitam os dele agora ?
Percebeu, de perto, que são fingidos como os teus
Não era o espelho que querias ?
Aceita
Afasta-te e vai-te embora com a tua distorção de passado
Agora ferida

Vendo-me

Sou mulher ordinária
Dessas que fácil se compra
Que se vende por poema sem rima
E sorrisos

Não sou elitizada
Ideal, já não sou de me impor
Nem de opor
Conservo-me calada

Ainda tenho minhas preferências
Gosto de longas cartas
De caixas vazias e presentes sem embrulho
De noites muito frias
E de conversas sem fim
Mas eu nada exijo além da ida sem volta

Sou mulherzinha ordinária
Mais fácil me leva o que não vacilar
O que me der certeza
De para sempre de mim me separar.

Vaidade da alma

Quero ser invisível
Nada de transparência
Transparente já sou
E é por isso que me notam

Venero a nudez
A exposição das formas
A exibição da intimidade
Que além de pelos
Nada mostra

Quero olhares pensativos
À procura de um sinal, talvez
E principalmente que ninguém veja no outro mais que um espelho de si
E que por fim haja apenas olhos
E tédio

Abortando um amor

Cresce hoje em mim um amor
Não é céu nem é mar
Também não é solidão
É palpável

Que alegria, Deus!
Ele tem mãos feitas para se encaixarem em outras
E quem dera que fossem as minhas!
Tem lábios
Coração
E fala

Na minha pele ele arde
Queima
E até já dói

Amanhã ele não terá mãos nem terá lábios
Amanhã ele será só passado
Penso que nem arderá tanto
Que queimará de leve
Mas talvez continue doendo