- Mais cedo pensei numa sala maior, numa viagem e cinco filhos. Em entrar num curso de costura - é sempre bom! - e aprender a dar ponto sem precisar de nó. Pensei em ligar pra minha mãe e perguntar se é viável criar desde cedo um bebê vegetariano. Se ele me perdoaria quando visse os amigos comerem coxinha sem cair duros na fila da cantina.
- Talvez algum dia eu vá à Itália, mas só se eu ganhar muito bem. Talvez visite o Vaticano, tente roubar um artefato e seja presa pela Guarda Suíça. Talvez eu use drogas sintéticas e estoure o limite do cartão com uma mísera bolsa. Talvez um dia eu realize o meu sonho de passar dias inteiros sem uma peça de roupa. Talvez um dia eu encontre meu Marcelo Camelo e o leve para conhecer a minha mãe.
- Hoje eu não quero saber de nada que não tenha minha vontade, que não tenha meu dedo, meu dengo, meus desejos, minhas fantasias.
- Hoje eu vou relaxar, vou encapar livros, fazer amor comigo mesma. Mais tarde, quem sabe?, talvez, se não estiver me sentindo muito cheia, me pague um sorvete. Dê algumas voltas na praça sem cansar até cansar. Se alguém ligar, eu já sei, digo estou muitíssimo ocupada, que a tarde me fez uma chamada urgente e irrecusável.
- Talvez amanhã eu termine de lavar a louça e acabe a pesquisa. Talvez algum dia eu mande ao inferno essa vida. Outro dia. Hoje eu fico mesmo é por aqui, assim mesmo.
Hipergrafia Nostálgica
Em memória do meu nunca-esquecido-cachorro-Mike e das coisas que eu tenho perdido ao longa da vida.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Hoje
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Caramba, Késia! Sou admirador de tuas palavras... A franqueza com que são postas, a sensibilidade; tudo! Gosto de ler suas linhas. Uma escritora muito interessante! Bravo (aplausos)!
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